Nesta sexta-feira, 11 de abril de 2025, o Diário do Transporte reportou mais uma falha no monotrilho da Linha 15-Prata do Metrô de São Paulo. Uma pane elétrica entre as estações Vila Prudente e Oratório obrigou o operador a caminhar pela passagem de emergência e conduzir o trem manualmente em modo semiautomático.
Este episódio se soma a uma série de falhas que atingem o sistema desde sua inauguração. Um exemplo grave foi o choque entre dois trens nas proximidades da estação Sapopemba em 8 de março de 2023.
Diante da frequência dos problemas, o Diário entrevistou o engenheiro Peter Alouche, especialista com ampla experiência em sistemas de transporte público, que apresentou uma análise técnica sobre os riscos e fragilidades do monotrilho no Brasil.
Complexidade e dependência tecnológica
Segundo Alouche, o monotrilho é uma tecnologia altamente específica e dependente de fornecedores, dificultando a manutenção e futuras expansões. Ele cita o uso de pneus especiais, sistemas de tração e frenagem embarcados como fatores que aumentam a complexidade e reduzem a segurança operacional. “A experiência da Linha 15 é um claro exemplo de uma tecnologia ainda não dominada”, afirmou.
Segurança de circulação e evacuação
A segurança de circulação no monotrilho, segundo o engenheiro, é frágil devido à dependência integral dos pneus de borracha. Ele alerta para o risco de explosões e incêndios, como já foi registrado na própria Linha 15. Em caso de pane, a evacuação é dificultada por passagens estreitas e elevadas, sendo muitas vezes necessário acionar o Corpo de Bombeiros, o que torna a operação crítica em emergências.
Impactos ambientais e técnicos das rodas de borracha
Alouche destaca que as rodas de borracha emitem partículas poluentes, exigem manutenção constante e aumentam o consumo de energia. “Além de serem menos duráveis, representam um risco maior à segurança”, acrescenta.
Confiabilidade e disponibilidade comprometidas
Para o especialista, a confiabilidade do sistema de monotrilho é “notoriamente baixa”. A Linha 15 apresenta paralisações constantes e a Linha 17 ainda não entrou em operação após anos de obras. “Problemas com tração, mudança de via e pneus são recorrentes”, ressalta.
Custos elevados e desempenho questionável
Outro ponto crítico é o custo. Segundo Peter Alouche, os gastos com a implementação das Linhas 15 e 17 mais que dobraram, chegando a mais de 250 milhões de dólares por quilômetro. Ele lembra que o projeto de monotrilho da BYD em Salvador foi descontinuado justamente pelo alto custo, e que no cenário internacional, como no Japão, a tecnologia está em declínio.
Conclusão: sistema pouco confiável
“Os graves problemas operacionais nas linhas paulistas, incluindo explosão de pneus e paralisações sem causa resolvida, demonstram que o monotrilho possui deficiências estruturais sérias. Precisamos repensar o modelo antes de expandi-lo”, finalizou o engenheiro.
A entrevista reforça a necessidade de avaliações mais criteriosas na escolha de tecnologias para mobilidade urbana, considerando não apenas inovação, mas também segurança, manutenção, sustentabilidade e custo-benefício real.